PSDB ataca Azeredo por envolver FHC

27 de setembro de 2007 10:45

Ao afirmar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi beneficiado com recursos da sua campanha para o governo de Minas Gerais em 1998, o senador Eduardo Azeredo (MG) irritou a cúpula do PSDB e deu munição para o PT. Dirigentes tucanos procuraram Azeredo para pedir que se silencie sobre o assunto e não tente fazer da denúncia localizada um problema do partido.

Nos bastidores, ministros do governo FHC pregam até a saída de Azeredo do partido. No exterior, o ex-presidente não foi localizado ontem.

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), afirmou que, ao reconhecer em entrevista à Folha, que houve caixa dois na sua campanha, Azeredo apresentou indícios para abertura de processo de cassação de mandato. “As denúncias são fortes”, afirmou. Ele, no entanto, vai aguardar a Procuradoria Geral da República apresentar denúncia para ouvir o colega.

Azeredo disse que “parte dos custos [da campanha à reeleição de Fernando Henrique] foram bancados pela sua campanha”. Inquérito da Polícia Federal concluiu que muito do dinheiro que irrigou a campanha de Azeredo veio de esquema do empresário Marcos Valério. Parte do dinheiro utilizado não foi contabilizado na campanha.

“O senador não poderia ter dito isso. Está me obrigando a responder algo surrealista. Envolver o presidente [FHC] nesse episódio é o mesmo que envolver o presidente [George] Bush”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). “O presidente FHC e o PSDB nacional não têm nada a ver com isso”, reagiu o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).

Para o presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), essa foi a demonstração de indignação de Azeredo, um “homem honesto” que “saiu falando o que veio à cabeça” . “Quem é correto fica transtornado num momento desses”, justificou Tasso, garantindo que Azeredo reverá as declarações.

Além de Tasso, Arthur Virgílio foi um dos que procuraram Azeredo ontem para cobrar explicações. Nas conversas, Azeredo teria alegado que acha injusto ser penalizado por uma prática comum na política.

Em São Paulo, o governador José Serra negou o isolamento do senador e repetiu que “Azeredo é um homem íntegro, honesto, um grande caráter”. Mas frisou ser natural que os comitês estaduais reforcem as campanhas nacionais. “Todos os candidatos que apoiaram o presidente FHC também fizeram campanha, como fizeram a minha em 2002”, disse Serra, admitindo ser “impossível que um candidato controle tudo que acontece”.

Procurado ontem, Azeredo disse que não iria mais se pronunciar sobre o assunto.
No PT, a entrevista de Azeredo foi considerada “contundente”. “As acusações em cima de FHC são muito pesadas. Não sei se a briga interna no partido está tão grande, mas ele pegou pesado com FHC”, disse a líder do partido, Ideli Salvatti (SC), ao defender que a Justiça investigue se FHC foi beneficiado por caixa dois.
Azeredo acusa o PT de pressionar para que a Justiça se manifeste sobre o valerioduto mineiro para desestabilizar o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais), que é filiado ao PTB.

“Isso já vai para as maldades. O PT levantou o assunto na ressaca da denúncia do Supremo. Se o operador era o mesmo, por que os processos se separaram?”, questionou Ideli.