“Quem não traficou, um dia vai traficar”
Esse grande fluxo da droga faz com que o consumo da cocaína seja intenso em Tabatinga.
Quem não traficou, um dia, vai traficar droga em Tabatinga. Só neste ano já apreendemos cerca de 200 kg de pasta base de cocaína, disse Eduardo Primo da Silva, delegado subchefe da Polícia Federal em Tabatinga. No ano passado, a PF apreendeu 1,5 tonelada da droga na cidade.
Tabatinga faz parte da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
Na madrugada deste domingo (9), seis pessoas foram presas, em flagrante, sob suspeita de tráfico internacional de drogas. A cocaína, que ainda seria pesada ao longo do dia, estava escondida em embarcações conhecidas na região como recreio. Os traficantes foram descobertos durante uma ação de fiscalização no Rio Solimões.
Segundo informações da PF, a droga saiu do Peru e foi transportada por um grupo contratado por colombianos. Essa é a rota usada pelas Farc para distribuir cocaína pelo Brasil, disse Primo.
O delegado disse ter identificado que a droga entra em território brasileiro por meio de embarcações. O problema é justamente encontrar a embarcação com a pasta base de cocaína. Imagina um barco com mais cem pessoas. Como vamos revistar um a um e ainda checar toda a bagagem?”, questiona.
Primo afirmou que os policiais federais fazem operações constantes para localizar os traficantes e a droga. Sabemos que apreendemos muito pouco. Não conseguimos mensurar o quanto de cocaína entra no país por Tabatinga, mas o que a PF apreende ainda é a menor parte do fluxo todo.
Matadores de aluguel
O número de homicídios relacionados ao tráfico de drogas é crescente em Tabatinga, segundo o delegado. Uma das razões, na avaliação de Primo, é a quantidade de policiais civis e militares.
Ele faz uma comparação com o total de policiais em Letícia, a cidade colombiana do outro lado da fronteira. A polícia de Letícia tem um efetivo de 450 homens para 40 mil habitantes. Em Tabatinga, são pouco mais de 40 policiais para 45 mil habitantes. É muito pouco, disse.
Como resultado, segundo ele, Tabatinga registrou um índice de cem mortes para cada mil habitantes em 2007. O número seria maior, segundo Primo, se fossem contadas mortes fora da área urbana.
“Não há problemas de bala perdida. São crimes de mando. Quem mata sabe quem tem de matar e só atira na cabeça, disse Primo.
Para cometer os homicídios, os traficantes recrutam jovens menores de idade. A faixa etária considerada ideal pelo tráfico varia de 15 a 25 anos, mas cada vez mais é possível notar que as crianças são chamadas para esse tipo de trabalho, disse primo.
O delegado explicou ainda que os criminosos não temem a presença da polícia para cometer os assassinatos. Se der, eles matam na nossa frente. Foi isso que aconteceu recentemente, quando um homem foi morto a tiros perto da sede da PF na cidade, disse.