Rebeldia dos universitários

8 de abril de 2008 11:04

Socos, pontapés, empurrões marcaram mais uma reviravolta na ocupação da Reitoria da Universidade de Brasília (UnB) na tarde de ontem. Após decidirem em assembléia desobedecer à determinação da Polícia Federal para que deixassem o local às 15h, os manifestantes acampados no local desde quinta-feira passada receberam o apoio de mais de mil estudantes, que forçaram a liberação da rampa de acesso ao prédio. Lá estavam 60 seguranças da UnB, que tentaram deter o avanço dos jovens. Na confusão, sobraram violência e reclamações dos dois lados. Mas a superioridade numérica fez valer a vontade dos universitários e, ao final do dia, os três andares do prédio tinham sido tomados.

Sete seguranças compareceram à Superintendência da Polícia Federal (PF), onde apresentaram queixas da violência que sofreram. Na reitoria, outros universitários reclamaram da truculência dos seguranças. Uma garota chegou a pegar o megafone de um manifestante para denunciar que tinha recebido pancadas e arranhões. Único estudante a prestar ocorrência policial até as 20h, Flávio Macedo, 21 anos, afirmou que 10 vigilantes o agrediram por ele ter se recusado a deixar a reitoria.

O diretor de Segurança da UnB, Weglisson Medeiros Ferreira, explicou que retirou toda a vigilância do prédio após a nova invasão. Ele afirmou que a segurança auxiliou gentilmente o movimento até a decisão dos estudantes de avançarem rampa acima. Não respondemos mais pelo controle da situação. A responsabilidade do que aconteceu é exclusiva das lideranças do movimento, desabafou. Os sete seguranças que apresentaram queixa na PF passaram por exame de corpo delito no Instituto de Medicina Legal (IML).

A reação da UnB à nova invasão foi imediata. Além de cortar novamente a água e a energia da reitoria, a instituição se manifestou em nota oficial, pedindo mais uma vez a desocupação do prédio. A nota destacou que, frustradas as negociações, o assunto volta à esfera do Judiciário, que determinou a reintegração de posse das instalações. O documento ainda reforça as tentativas de chegar a uma solução pacífica, com o religamento da luz e água no segundo dia de invasão, a pedido dos estudantes; a proibição da entrada da Polícia Militar na UnB; as quatro reuniões realizadas com o movimento estudantil; a convocação dupla do Conselho Universitário (Consuni) para tratar das reclamações dos manifestantes e um novo termo de compromisso apresentado ontem.

Excessos
Os líderes da ocupação, por sua vez, negaram ter incentivado os participantes da assembléia a fazer uma nova invasão. Tratou-se de uma atitude espontânea de quem estava lá embaixo. Estávamos ilhados e eles queriam reforçar o movimento, explicou a estudante Catharina Lincoln, 20 anos. Ela afirmou que a decisão foi legitimada na assembléia e que os universitários continuavam preocupados em manter o movimento pacífico. Não houve depredação de patrimônio público, ressaltou.

Em nota divulgada no início da noite, os líderes admitiram que houve excessos de ambas as partes na nova invasão. Eles pediram o religamento da energia e da água no prédio para garantir a segurança dos manifestantes e do patrimônio público. O grupo responsável pela ocupação espera conseguir apoio do Ministério da Educação (MEC) para intermediar as negociações com a UnB. Uma comissão de estudantes irá hoje ao MEC para discutir o assunto. Os estudantes ainda avisaram que não abrem mão da principal exigência do movimento: que o reitor Timothy Mulholland deixe o cargo.

Desde fevereiro, o Ministério Público do Distrito Federal acusa a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) de ter financiado, com recursos públicos, a reforma do apartamento funcional ocupado pelo reitor, bem como a compra de móveis e utensílios domésticos para o imóvel. Segundo o MPDF, foram gastos R$ 470 mil. Nas contas da UnB, esse total é de R$ 350 mil.