Recompensa por pistas

5 de setembro de 2007 11:01

Rio de Janeiro A Delegacia de Homicídios continua apurando a tentativa de execução do delegado Alexandre Neto, mas a Divisão Anti-Sequestro (DAS) da Polícia Civil, da qual ele é delegado-adjunto, decidiu fazer uma investigação paralela. Uma resposta é considerada questão de honra por policiais da DAS. Outras delegacias do Grande Rio buscam cooperar na caçada aos autores dos nove disparos contra Neto, no início da tarde de domingo, em frente ao prédio onde mora, em Copacabana, na Zona Sul.

O titular da DAS, delegado Fernando Moraes mesmo ainda se recuperando do tiro que levou ao comandar a libertação de um empresário seqüestrado na Baixada Fluminense , visitou Alexandre Neto, internado no Hospital Quinta D Or, em São Cristóvão. Alexandre Neto estava acompanhado de um amigo no momento dos tiros e foi possível, mesmo com a rapidez da ação, contar dois homens no veículo escuro de onde partiram os disparos. A arma era uma pistola PT-380, que costuma ser usada por policiais. Imagens do circuito de câmeras de um prédio vizinho poderão ajudar a identificar o carro usado no crime.

A polícia espera conseguir mais detalhes por meio de telefonemas ao Disque-Denúncia (21-2253-1177), que está oferecendo uma recompensa de R$ 2 mil por pistas que levem aos criminosos. A polícia admite que o valor pode aumentar, dependendo da importância da informação. A Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Adepol) também cobrou uma solução rápida para o que chamou de provável atentado .

Ele tem tantos inimigos que é até difícil imaginar quem teria coragem de tentar matá-lo , admite o presidente da Adepol, Wladimir Sérgio Reale. Com quatro décadas como delegado, Reale diz que seu colega abriu frentes demais e se arriscou ao trocar a discrição esperada do policial pela exposição pública. Ele é chamado carinhosamente aqui dentro de grilo falante . E falar demais, nessa profissão, infelizmente não é prudente , diz Reale.

Deputados
Entre as várias investigações importantes tocadas nos últimos tempos por Alexandre Neto está o seqüestro de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, ex-chefe do tráfico do Morro da Mangueira. O caso envolveria policiais corruptos. Neto também é lembrado como o homem que elaborou um dossiê sobre supostas atividades ilegais praticadas pelo ex-chefe da Polícia Civil e atual deputado estadual Álvaro Lins (PMDB), junto com um grupo de inspetores de sua confiança Fábio Leão, o Fabinho, Hélio Machado da Conceição, o Helinho, e Jorge Luís Fernandes, o Jorginho, todos presos acusados de ligação com a máfia dos caça-níqueis estourada pela Operação Hurricane. Ontem à tarde, Lins divulgou uma nota negando envolvimento e dizendo esperar que o delegado identifique seus agressores.

Em abril, Neto foi citado em uma escuta telefônica feita pela Polícia Federal em que a então inspetora e hoje deputada federal Marina Maggessi (sem partido) sugeria a Helinho que desse um monte de tiros nos cornos do delegado. Marina, que disse que a expressão não era para ser entendida de forma literal , lamentou que, com o atentado, agora levantem suspeitas contra ela. No último dia 16 de agosto, o delegado Alexandre Neto, desafeto declarado de Lins e Maggessi, formalizou suas denúncias em um depoimento na PF.

Uma perícia ainda vai determinar quantos dos nove tiros disparados oito deles cravados no pára-brisa do carro do delegado atingiram Neto, mas há pelo menos 10 fragmentos de bala no seu corpo. A maioria dos tiros o atingiu de raspão, mas um deles provocou fraturas na mão. Ele foi submetido a uma cirurgia de seis horas, mas, segundo o médico Rodrigo Gavina da Cruz, diretor do Quinta D Or, ainda corre o risco de perder alguns dedos e os movimentos da mão direita.

Estou cobrando da Secretaria de Segurança rapidez, transparência e eficácia nesse caso, que é emblemático de atentado contra um policial que denunciou máfias corruptas , disse ontem o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol), que entrou há algum tempo com uma representação na Assembléia Legislativa pedindo a cassação de Álvaro Lins.

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Polícia mata sete
Domingos Peixoto/Agência O Globo

Cerca de 250 policiais ficaram oito horas na Favela do Fumacê

Sete supostos traficantes morreram e dois foram presos ontem durante uma operação policial na Favela do Fumacê, em Realengo, Zona Oeste do Rio. Cerca de 250 policiais de delegacias especializadas estiveram na favela por oito horas. Houve vários tiroteios com traficantes, localizados em parte por denúncias feitas por moradores no momento da ação policial. Apesar do anunciado apoio da comunidade, o líder do tráfico da favela, identificado pela polícia como Thiago Bezerra da Silva Gomes, 28, o Thiaguinho, conseguiu escapar por volta das 5h com um de seus comparsas, conhecido como Português.

Thiaguinho tem mandado de prisão expedido por latrocínio (roubo seguido de morte) e é integrante da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). A quadrilha que atua no Fumacê é conhecida pela extrema violência com que comete os assassinatos e roubos. Um dos homens que morreram ontem, Diego Sérgio de Araújo Soares, 24, conhecido como Monstro, teria participado do assassinato do policial da Delegacia de Repressão a Armas e Entorpecentes (Drae) Antônio Ferreira, em maio deste ano. Até o início da noite, além de Diego, apenas Genílson de Oliveira Mesquita, de 18 anos, havia sido identificado.

Durante a operação, a polícia apreendeu sete radiotransmissores, uma granada de fuzil, uma granada defensiva, cerca de mil papelotes de cocaína, cinco tabletes de maconha, anotações do tráfico e seis pistolas, das quais uma pertencia à Polícia Civil do Rio e outra à Polícia Rodoviária Federal. A polícia vai investigar se as armas foram roubadas durante assaltos a policiais na região.