Região Norte sofre com o tráfico, desmatamento e falta de segurança

20 de junho de 2011 16:27

Aumento do desmatamento na Amazônia, falta de fiscalização das fronteiras, tráfico de drogas. A região Norte do Brasil sofre com os problemas de segurança pública e a Polícia Federal está de mãos atadas devido à falta de recursos.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam um crescimento de 27% do desmatamento na Amazônia,  entre agosto de 2010 e abril deste ano. O problema resultante da falta de fiscalização é uma das consequências dos cortes no orçamento da Polícia Federal que prejudicaram o andamento de operações na região, tais como, a operação Arco de Fogo que visa combater o desmatamento ilegal por meio de ações de segurança pública promovidas pelas Polícias Federal, Civil e Militar e órgãos das três instâncias governamentais.

O diretor da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal no Amazonas (ADPF/AM), delegado federal Eduardo Moreno Izel, afirma que a segurança no estado vive um caos. “Os cortes no orçamento da Polícia Federal afetaram diretamente o Estado do Amazonas. Aqui temos características muito diferentes dos demais estados da Federação. No Amazonas, quase não há estradas, por isso os deslocamentos só podem ser feitos por vias fluvial e aérea. Temos apenas uma Superintendência em Manaus e uma Delegacia em Tabatinga, para atender ao maior Estado da Federação com 3,5 milhões de habitantes. Só para se ter uma idéia, de avião a jato, o percurso de Manaus a Tabatinga, demora 21h15. Por isso, dependemos do custeamento de diárias e passagens aéreas. Está cada vez mais difícil trabalhar no interior. Precisamos de mais delegacias, de infraestrutura para dar continuidade às operações. Se não temos dinheiro para pagar o deslocamento de nossos policiais e nem como comprar combustível para as embarcações, não existe trabalho”, ressalta Izel.
 
A falta de fiscalização nas fronteiras alastra o tráfico de drogas pela região, e se agrava porque o Brasil vizinha os principais produtores de cocaína e maconha do mundo.  “No Amazonas, colegas Policiais Federais estão morrendo no combater o tráfico de drogas e o governo continua cortando verba. Sem dinheiro, é impossível monitorar os estados que fazem fronteira com a Colômbia, considerada a maior produtora de cocaína do mundo. Sem recurso não há como agir”, destaca o diretor da ADPF/AM referindo-se a morte de dois agentes, em novembro de 2010, quando investigavam o envio de cocaína por narcoguerrilheiros em uma embarcação, pelo Rio Solimões.
 
No estado do Acre a situação não é diferente. Postos e delegacias na fronteira com o Peru e a Bolívia operam com dificuldades. “A Polícia Federal precisa ser excluída dos cortes orçamentários, pois atuamos em áreas sensíveis que necessitam de pronta resposta à sociedade. Não podemos programar uma intervenção policial e adiar o trabalho por falta de recursos”, alertou o diretor da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal no Acre (ADPF/AC), Alessandro Batista Rodrigues.

 Nos últimos meses, os assassinatos também aumentaram na região norte. Conflitos agrários resultaram na morte de cerca de quatro pessoas. Três vítimas moravam no assentamento Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, no Pará. A quarta vítima era líder do Movimento Camponês Corumbiara e foi morta em Rondônia.

Temos duas operações importantes paralisadas: a Sentinela e a Arco de Fogo. Em nossas delegacias do interior,  missões vêm sendo prejudicadas, por falta de dinheiro. Alguns problemas, como o aumento dos conflitos agrários, podem ser fruto dessa ausência de recursos, que se agravou nos últimos quatro meses. A população se sente desprotegida e a ausência de policiais facilita a presença de criminosos nessas regiões. Tudo isso vem causando desgastes à intituição e prejuízos à própria sociedade, concluiu o diretor da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal no Pará (ADPF/PA), Kel Lúcio do Nascimento de Souza.

 No dia 30 de maio, o governo federal anunciou a criação de um grupo interministerial para discutir quais ações serão tomadas para conter o desmatamento e a violência no campo. A equipe será formada pelos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Geral da Presidência e Gabinete de Segurança Institucional.

 Cortes Orçamentários

Os cortes já obrigaram a PF a reduzir em 35% suas despesas, em relação ao ano passado, com deslocamentos de policiais em operações, afetando, assim, a fiscalização em regiões de fronteiras e as ações de combate ao narcotráfico e contrabando de armas. O problema também paralisou as negociações pela reestruturação da carreira policial e já ameaça  o andamento dos preparativos relacionados à segurança pública para a Copa do Mundo de 2014.