Segundo a Polícia Federal, propinas em trens de SP podem chegar a R$ 197 milhões

12 de fevereiro de 2014 11:09

A propina paga pelo cartel de empresas acusado de fraudar licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) pode chegar a R$ 197 milhões, segundo depoimento sigiloso da testemunha-chave da investigação, o ex-diretor da multinacional Siemens Everton Rheinheimer.

O jornal “Folha de S.Paulo” obteve a íntegra do depoimento que o executivo deu à Polícia Federal (PF), em que ele aponta três secretários do governo Geraldo Alckmin (PSDB) como destinatários de propina e detalha percentuais pagos pelo cartel.

 
Segundo ele, a Siemens e seus parceiros pagaram 9% para fornecer trens à linha 5 do Metrô em 2000 – um contrato de R$ 1,57 bilhão, em valores atualizados. Se o percentual estiver correto, a propina paga só nesse caso teria alcançado R$ 141 milhões.

 

O executivo disse à PF que informou esses percentuais na época ao então deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM), presidente da Comissão de Transportes da Assembleia do Estado, e concluiu que ele, “por lógica, também recebia valores oriundos da propina paga”. Garcia, hoje secretário do Desenvolvimento Econômico em São Paulo, nega ter mantido a conversa narrada por Everton Rheinheimer.

 

Delação. O executivo depôs no ano passado, após um acordo com o Ministério Público Federal em que se comprometeu a colaborar com as investigações e revelar o que sabe sobre a prática de corrupção por fornecedores do Metrô e da CPTM. Em troca, ele poderá sair do processo sem punição.

 

O caso foi encaminhado no ano passado ao STF por causa das acusações a Garcia e outros dois auxiliares de Alckmin: o chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, e o secretário de Energia, José Aníbal. Eles são deputados federais licenciados e, por isso, só podem ser investigados com autorização do STF. Ao encaminhar o caso ao Supremo, o juiz federal Marcelo Cavali classificou como frágeis os indícios de que eles receberam propina. No atual estágio das investigações, a única coisa que existe contra os três é o depoimento de Rheinheimer.

 

Intermediário

Contato. Segundo Rheinheimer, o encontro com Garcia foi agendado pelo consultor Arthur Teixeira, suspeito de intermediar o pagamento de propina das empresas para políticos do PSDB.

 

Blindagem de chefes irrita investigadores

A multinacional Siemens blindou parte de seus executivos das investigações em curso no Brasil sobre o cartel de trens e metrô de São Paulo.

Em ofício endereçado ao Ministério Público, a empresa informou que “não obteve a necessária autorização para informar seus dados”, em alusão a um grupo de dirigentes e ex-dirigentes. A carta da Siemens frustrou os investigadores. Na avaliação deles, o gesto ‘fura’ o acordo e abre caminho até para um eventual rompimento do pacto.