Teste para avaliar aspirantes à policiais
Policiais civis e federais dificilmente estão no local do crime no momento em que ele ocorre. Para solucioná-lo, portanto, eles precisam reconstituir os fatos. E, nesses casos, um dos artifícios mais valiosos para que o agente desvende o crime é o relato das testemunhas e dos envolvidos.
Foi pensando nisso que a psicóloga Luciene Rezende elaborou um teste para a avaliação de futuros agentes. Esse processo é explicado na sua dissertação de mestrado “Teste de memória de relatos: Elaboração de um instrumento para seleção de policiais”, defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) em setembro de 2006.
O teste de memória de relatos ainda não foi submetido à aprovação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e está em fase de finalização. No Brasil, existem apenas dois testes de memória validados pelo CFP: o Teste de Memória Visual (TMV), do Laboratório de Pesquisa em Avaliação e Medida (LabPam) da UnB e o Teste de Memória de Placas para Motoristas (Templam), da Casa do Psicólogo. Nenhum dos dois, entretanto, avalia memória de relatos. Além disso, não existem no país instrumentos específicos para seleção de policiais.
Por meio desse teste, o nível dos policiais pode melhorar. Uma seleção específica evita desperdício de tempo e dinheiro no treinamento de pessoas que, por inadequação, vão abandonar seus cargos ou ser dispensadas, esclarece a pesquisadora, ressaltando o fato de a profissão de policial ser uma das mais estressantes que existe.
Como é feito
A aplicação ocorre da seguinte maneira: depois de receberem as instruções iniciais, os candidatos ouvem a narração de uma história, com duração de três minutos. Em seguida, passam por uma atividade intermediária durante um minuto e, logo após, ouvem instruções finais e respondem a um formulário sobre a história, cujo enredo não é revelado nem na dissertação, para não comprometer o teste. Quem conseguir lembrar com mais precisão o que aconteceu, estará mais apto ao serviço.
O enredo dessa história foi elaborado de maneira que influenciasse o menos possível no resultado do teste, explica a pesquisadora. Luciene diz que a narração nada tem a ver com a profissão de policial, para evitar qualquer tipo de envolvimento emocional do candidato com o conteúdo da avaliação. A voz escolhida para a leitura da história tem dicção clara e entonação agradável.
Cada procedimento também teve seu tempo estabelecido, de modo a evitar que o teste se tornasse mais cansativo do que já é. Tentar lembrar do que aconteceu demanda muita concentração, afirma a psicóloga. A pesquisadora sugere que, quando for utilizada numa bateria de testes, a avaliação de memória de relatos seja uma das primeiras, para que seu resultado não seja prejudicado por outras atividades.
Esse teste de memória auxilia na escolha dos policias, ainda que eles costumem escrever seus relatórios no momento em que tomam um depoimento, pois podem transcrever um relato cheio de inferências pessoais. No caso dos aspirantes a agente, portanto, é importante saber se eles conseguem discernir o que foi dito de uma inferência (algo que ele achou ter ouvido), pois suas observações prestam um papel importante também no âmbito judicial.
Pesquisa
A última etapa do processo de elaboração do teste contou com a participação de 319 indivíduos. Eles responderam aos 53 itens que compõem o formulário de perguntas ajudando a pesquisadora a avaliar a efetividade da prova. Segundo Luciene, existe ainda possibilidade de aperfeiçoamento para avaliação da memória visual.