Traficante preso já preparava nova fuga

9 de agosto de 2007 10:27

A prova de que a fuga aconteceria em dias ou semanas são os bens de Abadía que foram apreendidos em empresas de transporte na Grande São Paulo. Muitos dos móveis do traficante já estavam embalados para serem transportados quando a PF realizou a operação de busca e apreensão no condomínio de alto padrão em que ele vivia, em Barueri (Grande SP).

A descoberta de que um dos maiores traficantes do mundo planejava fugir, feita a partir de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça Federal, não foi o único fator que obrigou a PF a apressar a prisão.

No último mês, o Supremo Tribunal Federal recebeu do governo dos EUA um pedido de prisão preventiva de Abadía, para fins de extradição.

O temor da PF era que a divulgação do pedido estragasse quase dois anos de investigação e monitoramento do traficante colombiano no Brasil.

A investigação sobre os negócios de Abadía no Brasil começou em outubro de 2005, quando um avião caiu na região de Curitiba. Curiosamente, ninguém reivindicou a posse da aeronave. A PF em Curitiba descobriu em seguida que o traficante poderia ser o dono. Havia, no entanto, uma dúvida judicial: como provar que Abadía era mesmo Abadía? O traficante usava quatro nomes falsos no Brasil (Marcelo Javier Unzue, Walter Orlando Palomino, Omar Antonio Peluso e Antonio Javier) e havia passado por três operações plásticas pelo menos no período em que permaneceu no país.

Colaboração do DEA

A confirmação definitiva de que o investigado era Abadía só chegou a São Paulo no dia 31 de julho. Um comunicado do escritório de São Paulo do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência de combate às drogas dos EUA) confirmava que um teste de reconhecimento de voz dera positivo.

O DEA, que tinha oferecido uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 9,5 milhões) por informações sobre o paradeiro do colombiano, tinha em seu banco de vozes uma gravação de Abadía e pôde conferir com uma amostra enviada pela Polícia Federal, colhida em interceptação telefônica. Foi a partir dessa identificação que a Justiça Federal passou a analisar o pedido de prisão do traficante e de outras 16 pessoas.

Ninguém na PF em São Paulo tem uma explicação clara das razões pelas quais o governo americano fez o pedido de prisão ao Supremo no mesmo período em que o DEA colaborava numa investigação sigilosa.

O pedido poderia ter comprometido a investigação, o que não interessa ao governo americano -um dos objetos de marketing de George W. Bush é a exibição de traficantes famosos, para provar que sua política antidrogas dá resultados e justificar os bilhões gastos.

Durante o período em que a PF investigou Abadía (de outubro de 2005 a agosto de 2007), ele não aparece envolvido em tráfico de cocaína ou heroína, as drogas que ele comercializava quando vivia na Colômbia.

Aparentemente, Abadía usava o Brasil exclusivamente como plataforma para lavagem de dinheiro. É por essa razão que o processo contra ele é sobre lavagem de dinheiro, não tráfico. Caso se confirme que Abadía não traficou no Brasil, será o segundo caso de um grande traficante internacional que recorre ao país para lavar dinheiro do narcotráfico.

Em março último, o mexicano Lucio Rueda Bustos foi condenado a dez anos de prisão pela Justiça Federal do Paraná por lavagem de dinheiro. Ele teria lavado cerca de R$ 18 milhões no Brasil.

A PF reforçou a segurança na cela de Abadía, na sede da Superintendência da PF em São Paulo, na Lapa (zona oeste).

Os delegados encarregados do caso estudavam ontem a possibilidade de transferir o colombiano para um dos presídios federais de segurança máxima – em Catanduvas, PR, ou em Campo Grande, MS- até a decisão do STF sobre uma possível extradição.

Ontem, mandados de busca e apreensão autorizados durante a investigação contra Abadía foram cumpridos pela PF na clínica de cirurgia plástica, na zona sul de São Paulo, onde ele realizou três operações para mudar o rosto.

Seu prontuário médico, analisado pela PF como possível prova de que ele queria mesmo mudar suas feições, foi apreendido no local.