Violência muda rotina da maioria dos brasileiros

20 de agosto de 2007 11:08

Outros 18% admitem encomendar comida por telefone para evitar o risco de sair de casa. É o que revela pesquisa do Ibope, realizada por telefone fixo, com 1.400 pessoas acima de 16 anos, em todo o país, entre os dias 7 e 9 de agosto.

Nas capitais, três em cada quatro moradores  76%  consideram insegura a cidade onde vivem. Quase a metade  46%  diz que já teve vontade de mudar de casa por causa da falta de segurança. A pesquisa foi feita para a agência Nova S/B Comunicação. A margem de erro é de três pontos percentuais.

“A insegurança faz com que as pessoas limitem horários, áreas e atividades. O habitat urbano muda em função disso. As pessoas começam a viver em condomínios fechados, com seguranças, grades. O medo da violência tem custos econômico e social muito altos, em termos de qualidade de vida” diz o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Sinal vermelho e filmes alugados Os pesquisadores pediram aos entrevistados que indicassem quais atitudes tomam para enfrentar a violência, numa uma lista de nove opções. As pesquisa constatou que 36%  o percentual é o mesmo entre homens e mulheres  já adotam cinco ou mais dessas atitudes, que podem ser entendidas como mudanças de hábitos.

Outros 29% assinalaram três ou quatro opções, como deixar de visitar vizinhos e amigos à noite, alugar filmes na locadora por medo de ir ao cinema e avançar o sinal vermelho.

“Tenho a paranóia do sinal vermelho na madrugada. Atravesso com cautela, mas não tem quem me faça ficar parada, como se estivesse esperando algo ruim acontecer” diz a empresária Cecília Arruda Botelho, que, depois de assaltada três vezes, não esconde outro medo:  Entrar num caixa eletrônico à noite, sozinha, é pedir para ser assaltada. Nunca faço isso.

Embora a sensação de insegurança seja maior nas capitais, o quadro não é muito diferente na média nacional. Para 61%, a cidade onde moram não é segura, enquanto 33% admitiram a vontade de mudar de endereço para fugir da violência. A sensação de insegurança é menor no interior, onde 46% dos moradores consideram a sua cidade segura e 54%, insegura.

“Adoro filmes novos, vejo quatro ou cinco por semana. Mas, para ir ao cinema hoje em dia, você tem que enfrentar riscos que, dentro de casa, podem ser evitados” diz Rosa Maria Fornazari Ortona, que na sextafeira alugava filmes ao lado de sua casa, em São Paulo, para não ter de sair.

O Ibope abordou um tema controverso: é a violência que vem aumentando ou são os meios de comunicação que passaram a dar mais destaque ao assunto? Para a maioria  79% , o que cresceu foi a violência, enquanto 19% disseram que, na verdade, o assunto ganhou mais espaço na mídia.

A idéia de que a violência avança aparece em outro ponto da pesquisa. Indagados sobre a situação nos últimos dois anos, 49% dos entrevistados disseram que a falta de segurança aumentou. Os índices mais altos apareceram entre as mulheres, entre quem tem de 30 a 49 anos, diploma de nível superior, vive na Região Sul e tem maior poder aquisitivo. Para 28% dos entrevistados, porém, a realidade permanece igual, enquanto 21% responderam que houve algum tipo de melhora.

“O Estado não está conseguindo fornecer segurança ao cidadão. É um alarme para a gravidade do quadro, sobretudo nas metrópoles” diz Cano.

O empresário Pedro Paulo Martins decidiu nove anos atrás que nunca mais dirigiria em São Paulo um carro que não fosse blindado. Desembolsou recentemente cerca de R$ 46 mil para blindar o seu Honda Civic:  A sensação de segurança é infinitamente maior num carro blindado, mas mesmo assim não paro em sinal vermelho de madrugada. De dia, não fico encostado em outro carro e procuro ficar numa rota de fuga.

O gerente de Projetos do Ibope, Maurício Garcia, esclarece que a pesquisa feita por telefone fixo exclui parte da população, especialmente a parcela mais pobre, que não tem acesso a esse serviço. Garcia diz que os dados são ponderados para compensar a deficiência.

Conheça abaixo os números da pesquisa