Walfrido se define como “avis rara” da política

3 de outubro de 2007 10:38

Numa última tentativa de não ser denunciado no caso do valerioduto tucano, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) classificou-se como “avis rara” no meio político e disse que há pessoas interessadas em “colocar uma faca no pescoço” do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza.

Walfrido apresentou, anteontem, sua defesa prévia a Antonio Fernando, que deve propor nos próximos dias denúncia contra os envolvidos no caixa dois da campanha de 1998 de Eduardo Azeredo (PSDB).

Apesar de não ter explicitado a comparação, a expressão “faca no pescoço” foi uma alusão à frase dita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski.

Numa conversa ao telefone, presenciada pela Folha, Lewandowski disse que “todo mundo votou com a faca no pescoço”, referindo-se aos demais ministros do Supremo, na aceitação da denúncia contra os envolvidos no mensalão.

Segundo Walfrido, por meio de seu advogado, Arnaldo Malheiros Filho, “pessoas interessadas na manipulação política das apurações” sobre o valerioduto tucano estariam exercendo “inusitada pressão” para que o procurador oferecesse a denúncia de forma prematura.

Usando muitos adjetivos e acrescentando pouca informação nova, Walfrido, mais uma vez, negou que tivesse participado da coordenação da campanha de Azeredo. A Polícia Federal apreendeu três manuscritos de Walfrido com anotações sobre recursos a aliados políticos. Em pelo menos um caso citado pelo ministro, a PF confirmou que o aliado recebeu dinheiro do caixa dois de Azeredo.

Walfrido diz que os manuscritos eram apenas estimativas de despesas e que ajudou a fazer os cálculos por ser hábil com números. “Engenheiro de formação […], o requerente tornou-se avis rara no meio político, onde a retórica costuma suplantar de longe a aritmética.” “Sua capacidade de dimensionar quantitativamente uma campanha […] tornou-se legendária em sua terra.”

Sobre a denúncia feita pela PF de que a Receita Federal levantou indícios de irregularidades na movimentação financeira de sua empresa, a Samos Participações, o ministro apresentou resultado preliminar de auditoria realizada pela PriceWaterhouse a seu pedido.

Segundo Walfrido, a auditoria confirmou que o capital da Samos foi constituído por quase R$ 16 milhões em dinheiro, decorrente da venda de outra empresa de Walfrido, a Biobras. A grande movimentação financeira da Samos em 2002, diz o ministro, deveu-se à aplicação dos recursos no mercado financeiro, que seria a única fonte de receita da empresa.