YouTube censura cenas inspiradas em filme

13 de outubro de 2007 09:50

O site YouTube retirou do ar alguns vídeos de jovens simulando cenas de tortura inspiradas em “Tropa de elite”. O Google, proprietário do portal de vídeos, atendeu o pedido do delegado de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), Antenor Martins.

Nos vídeos ( denunciados no blog do Bonequinho), adolescentes e crianças reproduziam diálogos, cenas de tortura e espancamento de Tropa de elite com colegas em salas de aula, em casa e nas ruas. As gravações caseiras estavam sendo disponibilizadas no site de vídeos YouTube, sempre com ligação ao título do filme ou ao Bope. As cenas mais chocantes mostram jovens torturand” colegas com saco plástico, levando ao risco de asfixia. Algumas cenas são tão reais que não se sabe ao certo se não passam de brincadeira ou são realmente agressão a colegas.

Para o delegado, especializado em crimes na internet, os vídeos poderiam incitar publicamente a prática da tortura. Mas ele alerta que os pais devem fiscalizar o que os filhos propagam na internet.

“Os filhos devem ser fiscalizados não só com o que fazem nas ruas, mas pelo que estão acessando ou propagando na internet. A sociedade mudou e a gente vê tanto problema em Orkut, YouTube. Os pais têm que prestar mais atenção”, diz o delegado.

Para a antropóloga Alba Zaluar, uma das mais experientes pesquisadoras brasileiras do tema da violência, o que impressiona nos vídeos é a origem dos jovens, todos de classe média, com acesso à tecnologia, como câmeras digitais e internet.

“Meninos da favela vêm a polícia fazendo isso há muito tempo, esculachando como eles fazem, torturando. Mas essa garotada (dos vídeos) está afinada com um mundo que não é o dela. Mas o mal fascina, e cada vez mais os jovens estão sendo criados de forma perversa.”

A antropóloga acrescenta que a pior reação seria apenas ficar indignado e denunciar através da mídia. “Os garotos poderiam continuar achando o máximo”, diz Zaluar. O importante é alertar professores e diretores que devem tomar o fato como uma oportunidade para se falar, em sala de aula, sobre a tortura.

“É um mal que deve ser combatido. Se manifestou dessa maneira, vamos aproveitar para discutir” completa. “Brincadeira de manipulação, garotos querendo dominar outros acontece há muitos anos, mas não com essa crueldade”.

Tanto o delegado quanto a antropóloga alertam para outros riscos, além da banalização da prática da tortura pelos jovens. Como uma tragédia com uma brincadeira de asfixia com saco plástico.

“Quando acontecer uma tragédia vão culpar o Padilha e vocês, a mídia. Mas os pais são totais responsáveis por essa perversidade”, completa Zaluar, ironizando aqueles que acreditam que o filme ou a reprodução dos vídeos na mídia incitam este tipo de violência.

Entre os comentários no blog do Bonequinho, muitos leitores banalizam os vídeos dizendo apenas ser brincadeira de jovens. “Quem aqui quando era criança e viu Os Goonies não tentou imitar aquele japona que inventava de tudo, ou então não botou uma capa do Super-Homem e saiu voando pela sala de casa, isso quando criança, e quando adolescente tentou imitar o Indiana Jones no play do prédio?”, escreveu João Claudio M. Tavares.

Leandro Araújo Lobo diz que os vídeos são “uma coisa banal”: “Todo mundo sempre brincou desde criança de pega ladrão, bandido e mocinho, índio e caubói… Todos copiados do cinema! Agora esse alarde absurdo por causa do Tropa de elite (…) O filme é uma obra de ficçao e pronto!”.

Já a leitora que assina Gracinha23 se diz tão chocada que é até “complicado” julgar: “Afinal, o que é cabível? Censura, proibição, umas chineladas bem dadas pelos pais ou será que deveriam todos nascer de novo?”.

A internauta Carol de Assis completa: “Lamentável não chega nem perto. Assustador, talvez.” Outro leitor, Thiago Vieira, levanta uma discussão importante: “É o retrato dessa nova geração. Isso é resultado da falta de educação, de valores. O filme poderia causar uma grande reflexão sobre a sociedade, mas no fim, infelizmente, só o que é lembrado são as cenas de violência”.

Da Agência O Globo