Artigo: A tecnologia no monitoramento da criminalidade no País
Por Luciano Leiro
Ainda há muito a avançar, porém a melhora é validada com dados. Nos últimos registros divulgados pelo Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp), os índices chegaram a cair 41% no caso de roubo a instituições financeiras e 38% nos registros de roubo de carga. Houve, ainda, queda de 30% do roubo de veículos; 23% de latrocínio (roubo seguido de morte); 22% nas taxas de homicídio doloso. Na Polícia Federal, recordes de apreensão de drogas: só de maconha foram 258,60 toneladas em 2020, contra 109,70 em 2019. Isso sem contar com o desmantelamento financeiro das organizações criminosas ligadas ao narcotráfico.
É claro que ainda é preciso melhorar em diversos pontos. Mas o fato é que é impossível termos um policiamento em todos os lugares do Brasil ao mesmo tempo. Investigar crimes cibernéticos é outra demanda totalmente diferente e complexa. É preciso fazer mais concursos para as Polícias Civis, Polícias Militares, PFs e PRFs, mas mesmo assim não teríamos como ocupar todos os espaços. Portanto, neste momento, o grande investimento é na tecnologia, tanto para a prevenção quanto para melhoria da qualidade da prova, obtendo assim a condenação dos criminosos, o que certamente irá reduzir ainda mais os índices.
Como citado, ainda assim, aos poucos o Brasil tem avançado. No caso da Polícia Federal, por exemplo, os dados mostram isso. Uma pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Justiça demonstra que 94,67% dos inquéritos que investigam os crimes de corrupção são solucionados pela PF e, na totalidade das demais infrações, o número chega a 70%. E isso tem se repetido pelas secretarias de segurança nos estados, os quais mostram em várias delas uma crescente redução da criminalidade. No DF, a título de exemplo, em 2020, foi registrado o menor número de homicídios dos últimos 41 anos e no primeiro semestre de 2021 já houve uma nova queda de 13,2%. Em Goiás também houve uma redução de 18% no número de crimes violentos letais. Então está tudo uma maravilha? Muito longe disso. O Brasil ainda apresenta índices de violência entre os mais altos do mundo. Mas o principal recado é que, muito mais do que fazer uma reforma administrativa, é preciso investir na segurança pública. Os dados mostram que, onde se investe mais nas polícias, há o retorno na redução proporcional da criminalidade. E não tenho dúvidas de que o investimento na tecnologia têm um papel fundamental.
Junto com a capacitação e valorização do Policial, a tecnologia é uma das principais estratégias para melhorar em todos os espectros a Segurança Pública. Rastreamento facial, biometria, sistemas de cidades inteligentes, videomonitoramento são alguns dos exemplos de ferramentas tecnológicas, as quais já estão sendo usadas no país. Hoje temos casos concretos bem interessantes no país de como a tecnologia é uma grande aliada na redução e no controle das taxas de criminalidade, como na cidade de Aparecida de Goiânia onde há um sistema de videomonitoramento com mais de 650 câmeras externas e outras 1,91 mil câmeras internadas instaladas em órgãos públicos como escolas e unidades de saúde. Mas, é preciso evoluir e muito ainda.
Pensando nisso, criamos em 2018, o 1º Simpósio Internacional de Segurança, em Brasília, para reunir diversas autoridades e representantes da área de segurança pública no país, junto a empresas de tecnologia, para discutir as novas tecnologias no combate à criminalidade. Em 2021 o encontro chega em sua 4ª edição e ainda com uma novidade interessante, um segundo desafio para startups e pessoas com projetos na área de tecnologia, as quais serão apresentadas aos órgãos públicos e empresas privadas.
Entre os dias 30 de agosto e 2 de setembro, com o tema “As Inovações Tecnológicas no Combate à Criminalidade”, o evento é uma oportunidade para que as boas práticas tecnológicas já implantadas no Brasil e no mundo sejam acessíveis aos gestores e especialistas do país. A cada ano, uma tecnologia sobressai a outra. Por isso, um evento como esse é de extrema importância no cenário que vivemos. E é esse o objetivo da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal. Ser um propagador de boas práticas para melhoria da segurança pública.
É fundamental que possamos modernizar, apoiar e facilitar as ações das polícias e, para isso, a integração tecnológica é essencial. Enquanto nos aperfeiçoamos com a tecnologia, o crime organizado também se moderniza, desta forma é fundamental estar sempre um passo à frente. Não adianta só investir mais, é preciso também investir sempre. A tecnologia do amanhã é muito mais avançada. E não pense que segurança pública demanda gasto, certamente não. Isso se chama investimento, porque segurança é vida!. E é isso que precisamos para diminuir cada vez mais as ações criminosas neste nosso Brasil continental.
*Luciano Leiro é vice-presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal e diretor regional da ADPF-DF
Publicado originalmente no site GPS Lifetime