“Não podemos direcionar nenhuma investigação”, diz presidente da ADPF

27 de abril de 2020 18:29

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Felix de Paiva, reiterou à imprensa que o acesso a assuntos de investigação policial é restrito e que o compartilhamento de informações, no caso da Polícia Federal, segue protocolo hierárquico legal. A declaração foi feita durante entrevista à Rádio CBN.

Paiva explicou que os relatórios de inteligência produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) são para subsidiar o presidente da República na tomada de decisões na condução do País. Os relatórios de inteligência da Polícia Federal, no entanto, dizem respeito a crimes investigados. Segundo Paiva, no caso do presidente da República, ele pode ser comunicado se for para ajudar a coibir alguma atuação nociva ao Estado brasileiro.

Na entrevista, o delegado federal também comentou que a Polícia Federal não tem garantias para trabalhar sem interferências indevidas. Segundo ele, a autonomia investigativa da PF “é feita na marra”, ou seja, baseada apenas na “cultura institucional” do órgão.

“Não adianta falar de autonomia investigativa se não tiver autonomia administrativa porque é da administração que vem os recursos. É a administração que vai escolher quais são as investigações que serão realizadas e quais são os recursos que vão ser alocados. Por isso que nós entendemos que esta administração tem que estar blindada das pressões políticas, que são naturais”, argumentou o presidente da ADPF.

Edvandir Paiva referiu-se às investigações da Polícia Federal que chegam ao poder político e econômico e que, por conta disso, resultam em todo tipo de pressão – seja para a troca do diretor-geral, de superintendentes regionais ou mesmo intimidação de delegados presidentes de inquéritos.

“A grande questão é que há a possibilidade de intervir, sim, porque a polícia não tem proteção legislativa nesse sentido. O novo diretor que assumir pode ser exonerado na primeira crise que houver”, disse Paiva.

Paiva lembrou que cabe ao ministro da Justiça requisitar a realização de investigações. “Não podemos direcionar nenhuma investigação”, afirmou.

A entrevista foi concedida na sexta-feira (24) depois que Sergio Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, alegando interferência política do presidente Jair Bolsonaro ao exonerar o delegado Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da PF.

Dois dias depois, no domingo (26), a ADPF enviou uma carta aberta ao presidente da República, na qual pede providências para que as relações entre o governo federal e a Polícia Federal se mantenham íntegras e republicanas.

Veja a repercussão na mídia:

Rádio CBN – Policiais federais acompanham com desconfiança a mudança no comando da PF

G1 – Entidade de delegados da PF pede a Bolsonaro autonomia financeira e mandato para diretor-geral

Estadão – Delegados da PF pedem a Bolsonaro compromisso com autonomia financeira e mandato para diretor geral

Estadão – Delegados pedem a Bolsonaro distância republicana da PF

Estadão – PF não faz comunicação pessoal com o presidente, afirmam delegados a Bolsonaro

Estadão – Não se produz investigação com um resultado específico desejado, dizem delegados da PF a Bolsonaro

BR Político – Delegados da PF citam crise de confiança com o governo

Varela Notícias – Delegados enviam carta a Bolsonaro pedindo autonomia da Polícia Federal após acusações de Moro

JM Online – Em carta, delegados federais pedem “distância republicana” a Bolsonaro

O Tempo – Associação da PF pede autonomia financeira e mandato para diretor-geral

BNews – Em carta enviada a Bolsonaro, Associação dos Delegados pede autonomia da PF